Na medicina passou a ser estranho ou no mínimo curioso falar em amor.
Laços afetivos, amigos, amor de casal, família, amor pelos filhos, irmãos, pelos pais, pelo cachorro. Amor por um desconhecido. Conectar-se com a beleza da vida.
O amor é uma força transformadora e pode ser um grande remédio.
O dia a dia de médico é uma boa escola. Quando a vida está por um fio ou quando a perda é inevitável, nosso coração fala mais alto: o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.
A força do amor que move a vida ficou separada da figura da medicina técnica e fria do nosso tempo.
Numa perspectiva evolutiva, indivíduos que viveram em sociedades em que pessoas se conectavam, cuidavam umas das outras, tinham laços afetivos e sociais verdadeiros, tiveram mais chance de sobreviver ao longo dos séculos. Humanos são naturalmente seres sociais.
Saber disso é bom, mas cada um deve viver da forma que deseja. Liberdade pras escolhas, pras companhias, pra beleza de também estar só – e conectar-se consigo mesmo. Excesso de solidão, entretanto, pode sim nos deixar doentes.
A vida moderna, na pressa e no mito da eficiência e da performance, nos distancia mais a cada dia. Parece mesmo que vivemos uma epidemia de isolamento. A Mental Health Foundation (UK) anunciou em estudo recente que 10% da população se sente sozinha, um terço tem um parente ou amigo próximo que é muito sozinho e metade acredita que estamos ficando cada vez mais sós.
Vivemos um tempo onde falta tempo pro amor. Amor que precisa de calma, de paz, de tolerância e de coragem.
De fato, as evidências da ciência da medicina do estilo de vida mostram que a solidão excessiva e o desconectar são fatores de risco pra doenças e pra morte prematura. A influência do isolamento social no risco de morte é comparável ao do hábito de fumar e representa risco ainda maior que o da obesidade e do sedentarismo em nossas vidas.
Estar conectado e ter laços afetivos é, portanto, um grande fator de proteção pro bem estar e pra saúde, aumentando em 50% as nossas chances de viver bem e por mais tempo.
Para além de números e estatísticas, seja na família, com amigos, no trabalho, no voluntariado, na psicoterapia, na escola, igreja, independente do tipo de conexão, fazer parte de algo maior faz bem pro corpo, pra mente e pro espírito. Estar junto, encontrar, ter alguém pra amar e que nos ame. A nossa caminhada fica mais leve assim.
Conectar é um remédio. Uma cura que vem de dentro pra fora e pode ser usada a qualquer hora, na dose que fizer bem pro seu coração.